27/10/2009

ENTRE DOIS SÉCULOS

Esta a boa amiga Heloisa me contou, um diálogo em uma festa de casamento, com a noiva, emblemático de dois séculos:
Séc. XX - E onde vão morar ?
Séc. XXI - Já moramos.

Então me lembrei de duas outras situações entre os dois séculos:

Tempos diversos.
Séc. XX - Foi bom pra você ? Passa o cigarro.
Séc. XXI - Vai ser bom não foi ? Fui.

Corpo humano
Séc. XX - O coração tem razões que a todos suplantam
Séc. XXI - O bolso muito mais.

21/10/2009

MARQUETINGUI, a nova praga tupiniquim


Essas patéticas fotos de políticos de terno e capacete de operário (em mangas de camisa, quando mui laboriosos) pretendem, não mais que isso, fixar a imagem de que teem algo na cabeça.

14/10/2009

QUESTÕES DE FÉ


A fé é um mal exatamente porque não exige justificativa e não tolera nenhuma argumentação.

Richard Dawkins,
em Deus, um delírio, pág. 394, Cia. das Letras

12/10/2009

REFLETEXÕES


SOBRE A GRANDE QUESTÃO

A versão criacionista sobre a origem dos tempos é a mais próxima da verdade final. Só falta descobrir quem a criou.

Quanto mais o homem se aproxima do conhecimento da origem dos tempos, mais ela se afasta.

Sem as questões QUEM e QUANDO o Homem não teria inventado Deus.

A invenção de Deus foi a última tentativa do homem para provar à mulher que poderia haver alguém tão ou mais importante que ela.

A criação do Criador só trouxe problemas para quem o criou: a Bíblia, as guerras, a discriminação e o dízimo.

O rebanho comparece; o pastor recolhe; o autor não vê um tostão dos direitos autorais. Quando muito, uma vela, uma estatueta, um salmo.

Para Fernanda Torres

Prezada cronista,
como sempre e, mais ainda pelo tema, sua crônica GULA, na Veja Rio, está saborosa. Apenas duas discordâncias, me permito, como leitor assíduo: "A única saída são mesmo a reeducação alimentar e os exercícios regulares" não é uma saída, é uma entrada num túnel sem luz no fundo; e "Quer comer hambúrguer? Compra carne, tempera, bate na faca e faz em casa" nem vem, não se compara ao comprado fora mesmo! Que nem cachorro-quente GENEAL, na arquibancada do Maraca. Tá bem, não é do teu tempo. Sigo lendo e curtindo.
JBGOLDEMBERG

09/10/2009

SOBRE JUDEUS

AS SEIS PONTAS DA ESTRELA

1 - Deus, Família, Justiça : os Fundamentos

2 - SHEMÁ : Ouve Israel, o Senhor é o nosso D'us, o Senhor é Um.

3 - Múltiplas tribos, povo uno.

4 - Não faças ao outro o que não queres que te façam.

5 - Se não eu, quem por mim ?
Se só por mim, o que sou ?
Se não agora, quando ?

6 - Ano que vem em Jerusalém.

06/10/2009

?!

Desde então. Desde o primeiro momento de luz teve início a saga da não existência do invisível.
A mãe morreu no parto. Não chegaram a conhecer um ao outro. O pai, no fundo, culpou-o pelo acontecido. Nunca lhe disse, nem veio ele a saber, mas sempre o teve distante, nenhuma paciência, sem amor. No exato momento em que foi vê-lo, pela primeira vez, no berçário, a luz do hospital apagou-se. Queda de tensão, geradores em ação, mas como estréia, frustrante. Nada promissora.
Sem parentes na cidade, filho de filhos do agreste nordestino, não tinha quem lhe cuidasse, mamasse e desmamasse. Veio ao mundo e nele se iniciou numa creche para domésticas, que o pai, operário, não tinha tempo nem saber para esse mister. Pouco o viu e casou-se novamente. Filha nova em casa, algum cuidado lhe davam, porque ajudava, quando a madrasta, operária de uma fábrica clandestina de fogos, por acidente óbvio, ficou cega e surda; sua vida familiar terminou. De cuidado passou a cuidador, de uma irmã sempre a chorar, sempre com fome, e de uma madrasta que não o via nem ouvia, mas lamuriava-se e pedia, isso, aquilo, anda, deixa de ser molenga...
Conseguiram-lhe uma vaga na escola pública do bairro; era fraca, mas já era alguma coisa. O melhor é que gerava Bolsa Família e merenda escolar. Na chamada, ninguém lhe ouvia o presente!; era o último da lista, a zoada já corria solta na sala. Algum convívio só no recreio, porque em casa, a última da rua sem asfalto do subúrbio de Maria da Graça, passando o terreno baldio e a fábrica abandonada, a garotada não ia chamá-lo para brincar; diziam, à boca pequena, que na fábrica moravam uns ciganos que roubavam crianças pra vender pro circo, pra passar o resto da vida limpando bosta de elefante. “ T’esconjuro!” “Não vou lá nem que a vaca tussa.”
Não era da turma, não era do bairro, não era conhecido. Nem por boas ou por más ações. Poderia ter potencial o menino, mas cadê, como?
O pai começou a beber, cansado e desiludido com as mulheres que lhe couberam nesta passagem terrestre. Nem o pastor conseguiu salvar-lhe a alma, ainda mais que tinha que dar o dízimo e este já havia sido bebido há muitos versículos atrás; saiu da igreja.
Assim, sem a força de um pai e a influência da madrasta, não teve como continuar na escola. Parou aí, no fundamental, e foi levando a vida, ao Deus dará, Que, na verdade, não dava nada. Já estava acostumado com os dízimos...
O tempo passou, ele passou pelo tempo e um dia resolveu que o jeito era trabalhar, quem sabe as coisas mudam? “Um lugar ao sol , porra, meu tempo sempre teve nublado.” Um bico aqui, outro acolá, desde sempre, perdido na multidão. Vida cinzenta. Que nem um traço fatal de eletro.
Conseguiu um emprego que lhe pareceu promissor.Muito movimento, à noite, muita gente, conhecer pessoas, papear, quem sabe, poderia descolar até uma mina?; “inda” mais que era no teatro. Vai ser sopa no mel, ou mel na sopa, sei lá! “Mas isso?”
“Tá bem, que quieu vou fazer ?!” Assistente de operador de mesa de som. Quietinho, no canto escuro, no fundo da cabine. “Quem vai me ver, caceta?”
Assim mesmo conseguiu uma namoradinha, a ajudante da camareira do teatro. Um sopro de vida, uma sensação que nunca conhecera, cheio de esperanças... Minguou. Ela se engraçou com o dançarino da terceira fila do musical em cena. Atribuiu aos poucos programas que estava podendo fazer, já que a madrasta abandonara o pai. Mesmo cega e surda, arranjara de quem depender melhor. O velho, velho operário, se desconstruiu – depressão, para os abonados -, e já nem reconhecer o filho conseguia. Diziam que era uma doença de nome esquisito, só sabia que o pai nem o conhecia mais. “Não lembra nem dele mesmo, o coitado.”
Teve um filho com uma vizinha, meia amalucada, não batia bem das idéias. O menino nasceu com algum problema, que se viu no crescimento; não lembrava de nada, não reconhecia ninguém, nem o próprio pai. Dizia que era “aminésia, parece nome de mulher, mas pombas, nem benzedeira deu jeito.”
A bebida foi a sequência inevitável. Tal qual o pai, de quem ele nem lembrava mais. Perdeu o emprego, bebia todas, cada vez pior a qualidade e maior a quantidade.De álcool e de amnésia alcoólica
Um dia, sumiu. Pra onde, ninguém soube, quando, ninguém viu.
O único a lembrar-se desta trajetória, se é que a isto assim se pode chamar, sou eu, baseado no que me contou uma pessoa que até lhe soube o nome – mas que não me disse -, há muito tempo, não me lembro onde.