Ao
final do artigo “Tu também Calatrava”, sobre arquitetura e alguns efeitos
colaterais, na última Veja, J.R.GUZZO propõe questões às quais gostaria de
contribuir, ou seja, botar um pouco mais de lenha na fogueira da conceituação
contemporânea do espaço criado e materializado.
Faltou
contextualizar os interesses eleitoreiros e provincianos dos governantes da era
pós globalização, aliados a outros, supostos e sem provas, além das perguntas:
é necessária essa obra? Cabe na cidade, em sua realidade e planejamento?
A
arquitetura sempre foi fundamentada em conceitos e teorias a partir do ser e do
estar do humano e do seu entorno, natural ou idealizado. Sempre o homem como
centro irradiador e objetivo final, sempre os grandes nomes — semideuses, no
artigo —projetando grandes pensamentos. A partir do Centro Beaubourg de Paris
(arquitetos Rogers e Piano) , na arte de projetar, ao homem, à função e
fruição, foi agregada a Tecnologia — nova, bela e impactante e, agora,
característica impositiva no fato arquitetônico; o sucesso de público foi tal
que se fez necessário restringir o número de visitantes por espaço de tempo,
por questões de segurança, e introduzir o item manutenção como primordial para
a vida da construção.
Globalização,
marketing, tecnologia e informática : as ferramentas próprias para o
desenvolvimento econômico e social que explodiu a partir do final do século 20
e que transformou o pensador, artista e técnico, em griffe, em sonho de consumo
político e social. A Arquitetura foi transformada em um novo negócio, em
empresa comercial pronta a vender um produto de sucesso, repercussão, uma
imagem resplandescente, mágica; fogos de
artifício perenes no mundo dos negócios e da política: assim o florescer de
Mitteramsés(o epitético presidente da França e suas obras), Gehry, Nouvel,
Hadid, Calatrava e outros.
A
troca do pensamento humanista pela pirotecnia, do arquiteto pelo diretor
comercial lobista, do usuário pelo investidor, este econômico ou eleitoral: eis
a questão.