09/12/2009

CARTA DOS LEITORES - O GLOBO 06/12 - (não publicada)


EXTRAVAGÂNCIAS NA ZONA PORTUÁRIA


A revista Veja, edição de 09/12/09, noticia acordo selado, há duas semanas, entre o Prefeito-viajante Eduardo Paes e a empresa de projetos internacionais de Santiago Calatrava, para um prédio na Zona Portuária, cuja função ainda é um mistério. Seria cômico se não fosse trágico, porque:
1 – O Brasil sempre esteve na vanguarda da arquitetura moderna, não necessitando o desbunde provinciano diante de “luminares” estrangeiros.
2 – Não há projeto algum, dos últimos que se pretendeu erguer no Rio de Janeiro, que não tivéssemos profissionais a altura para executar o serviço. E acresce notar que os arquitetos , no Rio, estão carentes de grandes projetos e os Prefeitos cariocas em périplos pelo mundo em busca de profissionais, o que nos leva ao seguinte:
3 – Prefeito Maia, Empresa Jean Nouvel, Museu Guggenheim: uma nota preta para Jean Nouvel fazer um estudo sobre a viabilidade dele mesmo fazer um projeto na Zona Portuária(dá pra imaginar, de antemão, o resultado do estudo, pois não?). E o projeto do tal Museu, que felizmente foi abortado.
Prefeito Maia, Empresa Portzamparc, Cidade da Música: já vimos no que deu aquele “peru num pires” urbanístico/arquitetônico e inviável economicamente diante da economia estagnada do Rio. Se fosse em São Paulo, talvez, mas paulista não é bobo, faz suas salas de concerto da maior qualidade e suas obras monumentais com a prata da casa. E funcionam.
Prefeito Paes, Empresa Calatrava, Prédio misterioso, na Zona Portuária.Que que é isso?
4 - Em qualquer lugar do mundo civilizado, por onde nossos políticos têm viajado e nada aprendido, obras deste porte são objeto de Concurso Público de Arquitetura, Nacional ou Internacional e no Brasil a lei assim o obriga; a lei, ora a lei!
5 - Agora, que o pagamento destas empresas, lá fora, facilita muita coisa, não há a menor dúvida. E, certamente , economizam às autoridades os gastos em cuecas e meias.

05/12/2009

CULTURA CARIOCA

SOBRE BOTECOS

Está no AURÉLIO :
Botequim: Estabelecimento comercial onde se servem bebidas em geral(bebidas alcoólicas, refrigerantes, café, etc.) e pequenos lanches; bar; boteco.
Aqui e agora :
Boteco: Pulsante local por onde a vida desfila.
Porque, está no AURÉLIO: Pulsante (Adjetivo), Pulsar (Verbo, do Latim Pulsare):

1. Movimentar por meio de impulso; impelir. 2. Por em movimento desordenado; agitar; abalar. 3. Tocar, ferir, tanger, dedilhar. 4. Perceber por certos indícios; sentir, pressentir. 5. Procurar saber a opinião de, sondar; consultar. 6. Repercutir, soando ou ressoando. 7. Ter pulsação, bater, palpitar, latejar. 8. Respirar a custo; ofegar, arquejar, anelar.
Então, Pulsar = Botequinar, pois o que daí não acontece em uma só noite, em qualquer boteco que se mereça? Então mais, uma estória de boteco:

CHARIVARI

Esta é uma estória que, já bem passados vários anos, ainda está presente no imaginário copacabanense. O que aconteceu certa noite, se não foi exatamente o que tem sido transmitido, foi muito perto, talvez até mais do que tem sido dito, porque as circunstâncias tornaram impossível a contabilidade correta dos deves e haveres, chopps e caipiras, batidas e tapas ; em todos os sentidos.
Era uma 6ª feira, à noite, o que quer dizer, para o fim de semana, fantasias, praia, bar, boate e futebol, cada qual na sua ordem preferencial.
Humberto Octávio havia chegado de São Paulo à noitinha, ligara para os amigos e já lá estava, refeito, banhado e perfumado, pronto para a primeira balada carioca. Balada, para o carioca, ofende mais o ouvido do que a palavra trabalho no sábado ou domingo, já lhe tinham dito. A mesa era de seis, o bar fervilhava desde há muito, “é hoje”, “tô sentindo no ar” ! O papo rolava solto, bem regado, descontraído, quando o paulistano vislumbrou, duas mesas adiante, um grupo de alegres mulheres, todas belas e fagueiras; modernas, falantes e gesticulantes, sem homem algum à mesa para lhes cortar o barato. Humberto Octávio pensou rápido: “Se alguma coisa tem ali em excesso, é falta de homem”. E, para sua surpresa, como uma faísca elétrica descarregada por seu pensar, percebeu, da morena mais exuberante, mais animada, uma piscada de olho, “sim, para mim, é a força do pensamento.” “Opa, quê que é isso, meu? Será que estou vendo bem ou é miragem? É antiquado mas promissor, sabe-se lá ?”
À sua volta, seus dois mais próximos, Joca, para quem opinião só existia de dois tipos: a certa e a dos outros, e Marcim, que tudo sabia, tanto que respondia, toda e qualquer pergunta antes mesmo do interlocutor conseguir completar a terceira palavra da questão. E foi para os dois que ele apelou, contando o percebido, ainda com uma ponta de dúvida.
“ Deixa ver, sô, se você não tá já bêbado”, e Marcim fez um ar de profunda concentração, franzindo a testa; Joca balançou a cabeça, um olhar de plena aprovação; nos ouvidos de Humberto Octávio, em segredo, se enfiaram “Vai nessa, cara”, “É isso mesmo”, “Ela não tira os olhos de você”, “Olha lá, piscou outra vez !”
“Puta sorte, meu!”, exclamou o paulistão, dirigindo um olhar sedutor para a mesa das meninas e arriscando uma piscadela, também. Correspondido. O mulherão piscou novamente, olhou para a cadeira ao lado, vazia, voltou-lhe a cabeça e piscou-lhe outra vez. “Putzgrila, melhor que isso só um chopps e duas pizza, no Bexiga, meu”, deve ter passado por sua cabeça, e, ato contínuo, levantou-se e foi em direção ao banheiro, e já que ela lhe indicara a cadeira, todos deviam ter visto, pelo menos o Joca vira, Humberto Octávio, na volta, parou, sussurrou alguma coisa no ouvido dela e fez menção de sentar-se, o que de fato não chegou a ocorrer, porque o que se ouviu foi o estalar de um tapa só, em plena bochecha. Dele. Silêncio geral, incrível, mas o silêncio se instalou instantaneamente.
Todos acham que faltou classe, jogo de cintura para o paulista baladeiro ; em vez de um dito espirituoso, uma tirada elegante ou, mesmo, uma retirada estratégica, com um ar superior Humberto Octávio mandou uma bolacha na menina, o que fez com que ela caísse, com cadeira e tudo, dando início ao maior charivari que se tem notícia por aquelas bandas.
Sobre o como e porque ocorreu o que se seguiu então, até hoje os botequineiros freudianos discordam dos lacanianos, de modo inconciliável, porque, para espanto geral, aquele sacrossanto espaço de debates e etilismo estilístico transformou-se num campo de batalhas. Todos se envolveram numa briga generalizada, até hoje não explicada pelos junguianos coletivos nem por qualquer outra tribo menos conhecida; os contendores se dicotomizaram : os homens contra as mulheres, sem distinção de raça, cor ou credo, cadeira, guarda-chuva, bolsa ou celular.
Os garçons, neutros – todos eram seus clientes preferidos -, agachavam-se atrás do balcão; a caixa e seu Manoel da Gamboa, o rotundo proprietário, fecharam a gaveta da féria e correram para fora, à procura de uma autoridade; um homem de terno preto, que ia passando – um segurança, pelo traje -, entrou na refrega, distribuindo tapas e pernadas, e não conseguindo aplacar os ânimos, logo escafedeu-se, sem dizer ao que viera – consta que foi ele quem deu sumiço em várias carteiras e celulares que os clientes deram por falta quando as coisas entraram nos eixos. Parece, pelo testemunhos dos vizinhos, que, aquele, nem segurança era, vinha passando e não perdeu a chance de um ganho extra.
Mais por exaustão que por resultado reconhecido do arranca-rabo, afinal sem uma causa por defender, a exaltação e histeria arrefeceram; os próprios iam arrumando o que haviam derrubado, sentando-se uns, ajudando-se outros, pedindo novos chopps, o que era próprio para momentos de paz entre os homens de boa vontade, olhando em volta, fazendo um reconhecimento e levantamento do Austerlitz copacabanense. Entre as que retocavam a maquiagem, alguns recompunham a estampa, muitos sorrindo, sem graça, uns poucos, com vergonha, o popular don Ramon, sentado no chão, encostado à parede, camisa aberta, já sem botões, arfava, com a protuberância ventral à mostra e a peruca acaju caída sobre a testa ; sua mulata preferida daquela noite, procurava levantá-lo, o que não era fácil, já que também buscava descobrir onde fora parar seu outro pé de sapato, o que não quebrara o salto.
Numa mirada mais cuidadosa, se via Antonio Augusto, o advogado, de quatro, à procura de seus óculos fundo de garrafa; sem eles, já tinha cortes em três dedos, mesmo com o auxílio amigo e solidário de recentes inimigos: Regininha, a loura, perguntava ao namorado, cabeludo e desgrenhado, em pleno esfrega de reconciliação, porque fora a briga, afinal; Dna. Carmencita, a inspetora do MEC, ainda revoltada, afirmava : “Tem gente que não se dá o respeito, nem em um momento sério! Passaram a mão na minha bunda, em plena refrega! Cadê ele, quero ver agora !”, desafiava, na esperança de não perder a chance de acabar o que tinha começado, não importa como,” nunca se sabe, pode ser dessa vez...”
Até que, finalmente, voltou à normalidade o ambiente, que exige e merece respeito. Um pouco mais agitado mas ainda dentro dos conformes. Seu Manoel, mesmo com alguns copos quebrados, acabou faturando mais que o normal, em chopps e pastéis, que ninguém é de ferro ! E, assim, os grandes problemas d’ontem, d’hoje e d’amanhã puderam voltar a ter suas soluções etilicamente encaminhadas. Voltou a sorrir a noite de Copacabana.
Somente em uma coisa houve consenso, quando dos retrospectos criteriosos no sábado e no domingo : fora muita molecagem não terem alertado o Humberto Octávio sobre o cacoete ocular de Virginia 42 – gente boa, líder da alegre mesa das moças alegres -, cujo epíteto fora obra do seu Manoel, em reunião de organização e métodos :
“Não quero discriminação no meu estabelecimento, nada de chamar de viado ou sapatão, não admito, ora pois! Vamos dar números aos clientes,fica mais fino.

11/11/2009

CRÔNICAS D'ANTANHO

MEMÓRIAS DE CINEMA

Na minha cidade natal, Porto Alegre, o ano era o de 1943 ou 44, não me lembra bem. Eu tinha uns oito anos de idade mas certos acontecimentos de então - mais os bons do que os ruins, que não esqueço mas finjo que - até hoje recordo com carinho e um sorriso constante nos lábios. Como qualquer velho, eu, a propósito, diria : aqueles é que eram bons tempos... Bobagem, quaisquer tempos com oito anos são bons tempos.
A 2ª Guerra seguia firme, na Europa e na Ásia. Nós torcíamos, éramos dos Aliados, contra os nazistas e os amarelos. E colecionávamos os cartões Asas da Vitória, que vinham em barrinhas de chocolates, com todos os modelos de aviões de guerra, multicoloridos; o Tigre Voador, da Inglaterra era o mais admirado, com seu bico pintado como boca de tubarão aberta, o que na época servia como tigre, era assustador e poderoso. E também figurinhas dos grandes heróis e líderes, generais e políticos; um dos mais difíceis , odiado mas objeto de desejo de todo guri da época, era Togo – só o nome nos deixava apreensivos -, o primeiro ministro japonês, o inimigo cruel, impiedoso.
A capital do valoroso Estado do Rio Grande do Sul, terra do gaúcho, bombacha, chimarrão e de macho, também participava do esforço de guerra que o país solicitara: os carros circulavam “a gasogênio”, enorme fornalha instalada na mala dos carros, para não desperdiçar gasolina, necessária para a guerra; havia a campanha do alumínio, quando caminhões passavam pelas ruas e a gente jogava panelas, bandejas e outros utensílios domésticos para , diziam, serem derretidos e confeccionadas armas para os combatentes; cigarros também, havia os caminhões para estes, para os pracinhas, que na volta relataram ter recebido somente marcas como Odalisca, Aurora, os matarratos da época, embora a população contribuísse com Hollywood, o fino de então; mistérios da guerra... Nas praias, Capão da Canoa, Torres, Tramandaí, sempre à noite alguém via um submarino alemão fazendo sinais luminosos para a terra, para algum quinta coluna, os espiões de então; todos desconfiavam sempre de algum alemão conhecido, na redondeza. E à noite, periodicamente, exercícios – emocionante - de “Black out”, com a cidade inteira desligando as luzes, escuro total, proteção contra ataques aéreos; a gurizada aproveitava para ir para a cama dos pais, que era mais seguro e quentinho.A sirene tocava e assim voltava a luz e a normalidade de tempos de paz, porque então nada havia on line, nem em tempo real.
A vida era boa, na Porto Alegre daquela infância. Escola na Redenção, brincar na rua, na Venâncio Aires, na Santa Terezinha, onde brigava bastante com um , já então, gordinho, filho do seu Érico, ícone do bairro e da cidade; fim de semana , no Bonfim, onde morava o resto da família, tios, primos e primas de todas as idades e chatices, com muitas brigas entre si, por variados motivos e até sem eles, afinal, eram uma família... Bem legal, diria hoje, ao voltar a frequentá-los, aqui. Nessa época, começou a se desenhar o gosto por cinema. O pai era, entre as várias atividades com as quais não parava quieto, um dos proprietários do Cine Baltimore, enorme cinema (pelo menos assim me parecia, à época) do bairro, e onde, por ser filho do dono, podia entrar de graça e, por isso mesmo, ter muitos amigos.
O saguão era muito grande, muitas luzes, espelhos , cartazes das próximas atrações e uma bombonière com mil produtos, entre balas, chocolates, chicletes, enfim, um delírio; o filho do dono ajudava a atender, atrás do balcão e a todo instante caía alguma balinha no chão e, claro, não ficava bem colocar à venda outra vez, pelo que ia para o bolso, com o consentimento do baleiro. Duas entradas laterais levavam à platéia, grande, teto abobadado, alto. E, o que era mais notável e só lá existiam, camarotes para seis pessoas, suspensos nas paredes laterais e na dos fundos. Eram para espetáculos teatrais ou recitais, pois o Baltimore tinha palco. Um espaço monumental e mágico. Um mundo de fantasia, viagens e novidades quando , no escuro, o foco de luz vindo da cabine de projeção nos arrebatava e conduzia sem limites e sem fronteiras. Nada, nem uma ou duas ratazanas, que insistiam em driblar a desratização e trombar com os pés dos espectadores, podia deslustrar aquele encantamento. E ainda tinha as brigas nas matinées, com os guris comuns, querendo entrar no camarote onde o filho do dono e seus comparsas assistiam ao filme, fazendo questão de mostrar o privilégio que lhes era dado. Até chegar o lanterninha a coisa ficava feia, depois acalmava, quando já aparecia na tela o mocinho, nos seriados de ação e aventura; filmes em episódios, feitos para passar um antes de cada filme, durante a semana, mas que não se sabe porque, em Porto Alegre, passava todo de uma vez ,numa só sessão, repetindo as últimas cenas de um episódio ao iniciar o outro; parecia um filme com soluços. Inesquecíveis matinées do Baltimore.
“Eu quero!” Como não haveria de querer. Ir ao cinema à noite, coisa de gente grande. Ainda mais sendo proibido. “Ele já é um homenzinho” argumentou o pai para uma mãe reticente. “Não sei se é próprio, é uma criança. Ainda mais para ver esse filme.”, dizia ela. “Não, já está na hora de começar a ver coisas mais sérias”, insistia o pai, sabendo que valeria a opinião dele, como sempre. E assim foi decidido –“ mas eu vou também, não vou deixar esse menino sozinho nesse filme, de jeito nenhum”, impôs a mãe. Glória, cinema à noite, filme proibido, KING KONG !
A sessão começou, pondo fim à ansiedade, com o tradicional noticiário cinematográfico, com meses de atraso em relação aos eventos, mas ,ao som de trombetas, intitulado Atualidades Cinematográficas; depois o trailer da próxima atração. E , então, finalmente, o KING KONG. Aí foi possível sentar na cadeira, não mais ficar agachado atrás do peitoril do camarote para não ser visto pelo fiscal da Prefeitura, sempre à procura de um desrespeitador da lei e da ordem para multar o dono do cinema.
O filme transcorria como a alta expectativa prenunciara, olhos arregalados, coração apertado; a mãe, sentada ao lado, preocupada com os efeitos da iminente aparição do monstro, super protetora; queria, a todo custo, evitar que o guri, o seu guri, o “homenzinho” do pai apressado, levasse algum susto que lhe fosse prejudicial, causasse algum dano psicológico – intuitivamente, porque àquela época, a viagem do Dr. Freud ainda não havia chegado a Porto Alegre.
Às vezes a coisa não funciona bem como se espera. Ela, a mãe, não podia imaginar o que de susto e terror ela causou quando, ao aparecer o primeiro grande close do macacão, tampou , no mesmo instante, parecia ensaiado, os olhos do filho, para ele não ver, não se assustar. Não podia imaginar, e nunca soube, ainda bem, o que foi, de repente, sem saber de onde nem porque, uma enorme mão agarrar-lhe o rosto, que susto!, quase fez nas calças, ficar tudo escuro e urros, berros assustadores, vindo não se sabe donde. Um terror, o coração só não saiu pela boca porque havia uma misteriosa mão impedindo.
No dia seguinte, teve que inventar para poder contar aos amigos o que não vira. Mas valeu. A emoção do primeiro cinema à noite, a cumplicidade do pai, saber que tinha sempre a mãe ao seu lado, mesmo pagando mico em filme de gorila, e a noção do que seja terror cinematográfico; isso o que mais ficou gravado, tanto que cinquenta e tantos anos depois, a versão colorida e cheia de efeitos especiais, a versão da era tecnológica, despertou apenas curiosidade e um certo sorriso desdenhoso. “Não sabem de nada!” “Não sabem o que é KING KONG!”
A nova versão nunca mais foi vista, mas a original, branco e preto, essa sim, não dá para perder.

FRAGMENTOS DE UM EVANGELHO APÓCRIFO

de JORGE LUIS BORGES

24 - Não exageres o culto da verdade; não há homem que no final de um dia não tenha mentido com razão muitas vezes.

50 - Felizes os amados e os amantes e os que podem prescindir do amor.

51 - Felizes os felizes.

Revista PIAUÍ, nº 37, pág. 50

27/10/2009

ENTRE DOIS SÉCULOS

Esta a boa amiga Heloisa me contou, um diálogo em uma festa de casamento, com a noiva, emblemático de dois séculos:
Séc. XX - E onde vão morar ?
Séc. XXI - Já moramos.

Então me lembrei de duas outras situações entre os dois séculos:

Tempos diversos.
Séc. XX - Foi bom pra você ? Passa o cigarro.
Séc. XXI - Vai ser bom não foi ? Fui.

Corpo humano
Séc. XX - O coração tem razões que a todos suplantam
Séc. XXI - O bolso muito mais.

21/10/2009

MARQUETINGUI, a nova praga tupiniquim


Essas patéticas fotos de políticos de terno e capacete de operário (em mangas de camisa, quando mui laboriosos) pretendem, não mais que isso, fixar a imagem de que teem algo na cabeça.

14/10/2009

QUESTÕES DE FÉ


A fé é um mal exatamente porque não exige justificativa e não tolera nenhuma argumentação.

Richard Dawkins,
em Deus, um delírio, pág. 394, Cia. das Letras

12/10/2009

REFLETEXÕES


SOBRE A GRANDE QUESTÃO

A versão criacionista sobre a origem dos tempos é a mais próxima da verdade final. Só falta descobrir quem a criou.

Quanto mais o homem se aproxima do conhecimento da origem dos tempos, mais ela se afasta.

Sem as questões QUEM e QUANDO o Homem não teria inventado Deus.

A invenção de Deus foi a última tentativa do homem para provar à mulher que poderia haver alguém tão ou mais importante que ela.

A criação do Criador só trouxe problemas para quem o criou: a Bíblia, as guerras, a discriminação e o dízimo.

O rebanho comparece; o pastor recolhe; o autor não vê um tostão dos direitos autorais. Quando muito, uma vela, uma estatueta, um salmo.

Para Fernanda Torres

Prezada cronista,
como sempre e, mais ainda pelo tema, sua crônica GULA, na Veja Rio, está saborosa. Apenas duas discordâncias, me permito, como leitor assíduo: "A única saída são mesmo a reeducação alimentar e os exercícios regulares" não é uma saída, é uma entrada num túnel sem luz no fundo; e "Quer comer hambúrguer? Compra carne, tempera, bate na faca e faz em casa" nem vem, não se compara ao comprado fora mesmo! Que nem cachorro-quente GENEAL, na arquibancada do Maraca. Tá bem, não é do teu tempo. Sigo lendo e curtindo.
JBGOLDEMBERG

09/10/2009

SOBRE JUDEUS

AS SEIS PONTAS DA ESTRELA

1 - Deus, Família, Justiça : os Fundamentos

2 - SHEMÁ : Ouve Israel, o Senhor é o nosso D'us, o Senhor é Um.

3 - Múltiplas tribos, povo uno.

4 - Não faças ao outro o que não queres que te façam.

5 - Se não eu, quem por mim ?
Se só por mim, o que sou ?
Se não agora, quando ?

6 - Ano que vem em Jerusalém.

06/10/2009

?!

Desde então. Desde o primeiro momento de luz teve início a saga da não existência do invisível.
A mãe morreu no parto. Não chegaram a conhecer um ao outro. O pai, no fundo, culpou-o pelo acontecido. Nunca lhe disse, nem veio ele a saber, mas sempre o teve distante, nenhuma paciência, sem amor. No exato momento em que foi vê-lo, pela primeira vez, no berçário, a luz do hospital apagou-se. Queda de tensão, geradores em ação, mas como estréia, frustrante. Nada promissora.
Sem parentes na cidade, filho de filhos do agreste nordestino, não tinha quem lhe cuidasse, mamasse e desmamasse. Veio ao mundo e nele se iniciou numa creche para domésticas, que o pai, operário, não tinha tempo nem saber para esse mister. Pouco o viu e casou-se novamente. Filha nova em casa, algum cuidado lhe davam, porque ajudava, quando a madrasta, operária de uma fábrica clandestina de fogos, por acidente óbvio, ficou cega e surda; sua vida familiar terminou. De cuidado passou a cuidador, de uma irmã sempre a chorar, sempre com fome, e de uma madrasta que não o via nem ouvia, mas lamuriava-se e pedia, isso, aquilo, anda, deixa de ser molenga...
Conseguiram-lhe uma vaga na escola pública do bairro; era fraca, mas já era alguma coisa. O melhor é que gerava Bolsa Família e merenda escolar. Na chamada, ninguém lhe ouvia o presente!; era o último da lista, a zoada já corria solta na sala. Algum convívio só no recreio, porque em casa, a última da rua sem asfalto do subúrbio de Maria da Graça, passando o terreno baldio e a fábrica abandonada, a garotada não ia chamá-lo para brincar; diziam, à boca pequena, que na fábrica moravam uns ciganos que roubavam crianças pra vender pro circo, pra passar o resto da vida limpando bosta de elefante. “ T’esconjuro!” “Não vou lá nem que a vaca tussa.”
Não era da turma, não era do bairro, não era conhecido. Nem por boas ou por más ações. Poderia ter potencial o menino, mas cadê, como?
O pai começou a beber, cansado e desiludido com as mulheres que lhe couberam nesta passagem terrestre. Nem o pastor conseguiu salvar-lhe a alma, ainda mais que tinha que dar o dízimo e este já havia sido bebido há muitos versículos atrás; saiu da igreja.
Assim, sem a força de um pai e a influência da madrasta, não teve como continuar na escola. Parou aí, no fundamental, e foi levando a vida, ao Deus dará, Que, na verdade, não dava nada. Já estava acostumado com os dízimos...
O tempo passou, ele passou pelo tempo e um dia resolveu que o jeito era trabalhar, quem sabe as coisas mudam? “Um lugar ao sol , porra, meu tempo sempre teve nublado.” Um bico aqui, outro acolá, desde sempre, perdido na multidão. Vida cinzenta. Que nem um traço fatal de eletro.
Conseguiu um emprego que lhe pareceu promissor.Muito movimento, à noite, muita gente, conhecer pessoas, papear, quem sabe, poderia descolar até uma mina?; “inda” mais que era no teatro. Vai ser sopa no mel, ou mel na sopa, sei lá! “Mas isso?”
“Tá bem, que quieu vou fazer ?!” Assistente de operador de mesa de som. Quietinho, no canto escuro, no fundo da cabine. “Quem vai me ver, caceta?”
Assim mesmo conseguiu uma namoradinha, a ajudante da camareira do teatro. Um sopro de vida, uma sensação que nunca conhecera, cheio de esperanças... Minguou. Ela se engraçou com o dançarino da terceira fila do musical em cena. Atribuiu aos poucos programas que estava podendo fazer, já que a madrasta abandonara o pai. Mesmo cega e surda, arranjara de quem depender melhor. O velho, velho operário, se desconstruiu – depressão, para os abonados -, e já nem reconhecer o filho conseguia. Diziam que era uma doença de nome esquisito, só sabia que o pai nem o conhecia mais. “Não lembra nem dele mesmo, o coitado.”
Teve um filho com uma vizinha, meia amalucada, não batia bem das idéias. O menino nasceu com algum problema, que se viu no crescimento; não lembrava de nada, não reconhecia ninguém, nem o próprio pai. Dizia que era “aminésia, parece nome de mulher, mas pombas, nem benzedeira deu jeito.”
A bebida foi a sequência inevitável. Tal qual o pai, de quem ele nem lembrava mais. Perdeu o emprego, bebia todas, cada vez pior a qualidade e maior a quantidade.De álcool e de amnésia alcoólica
Um dia, sumiu. Pra onde, ninguém soube, quando, ninguém viu.
O único a lembrar-se desta trajetória, se é que a isto assim se pode chamar, sou eu, baseado no que me contou uma pessoa que até lhe soube o nome – mas que não me disse -, há muito tempo, não me lembro onde.

29/09/2009

SOBRE POLÍTICA BRASILEIRA (II), a do momento.

Cor do texto: ROXO, de vergonha...

1 - CHULO, bem chulo mesmo, que o meio não comporta algo melhor:
O Político tem uma fixação sexual pelos eleitores;
se lhe negam o voto, ele se fode então,
se comparecem em massa, ele os fode depois.

2 - Conflito de gerações.
Segue a vida: o filho do Político sempre busca ser pior que o pai. E consegue.

3 - Se mentira tem perna curta, no Congresso o coxo fala do bi-amputado.

4 - Se, como dizem, Deus escreve certo por linhas tortas, em Brasilia Ele nem escreve porque
roubaram as linhas na gráfica do Senado. Consta que elas tecem rendas no Maranhão,
uma tradição de pai pra filha.

5 - E chega de política que qualquer criança pode acessar este blog e há que preservá-las.

23/09/2009

PONTOS DE VISTA D'ÁFRICA


“ A Natureza tudo provê. Arranja tudo para que tudo se arranje, para que o equilíbrio se mantenha; a despeito dos homens, que tudo pretendem prever e o desequilíbrio manter. Pura questão de Poder. Há quem pense até que Deus é a Natureza. A vida, digo a vocês, não é complicada a ponto de se perder a cabeça. Ou a própria vida. Graças a Deus, ou à Natureza, como queiram, somos fortes. Mas necessitamos permanecer unidos. É aí que reside nossa fortaleza, nossa respeitável estrutura social, nossa sobrevivência nessa selva que é a existência; no estar firme na proteção dos nossos; os mais velhos, dos mais novos; os mais fortes, dos mais fracos; as mães, dos filhos e os pais, da família. Nossos hábitos alimentares próprios já lhes ensinei e a busca pela água, já sabem, é fundamental. E andar, andar muito, para o desenvolvimento físico. E aí, curtir a Natureza, o que ela nos proporciona, o que a vida tem de bom; sombra e água fresca, como querem alguns. Não creio que se deva almejar o público reconhecimento de nossas qualidades, de nossa maneira de ser, de nossa capacidade de aprender. A vida não é um show. Cuidem-se, resistam, não se deixem levar à platéia, não se deixem transformar em atração. Quantos a gente conheceu que, por isso mesmo, se perderam, foram e nunca mais voltaram. Continuemos simples, tranquilos. Em sintonia com a Natureza. É sábio, pode ser difícil mas deve ser tentado.Sempre.”
“ Vejam só, por exemplo: nós aqui, tranquilamente, comendo o que necessitamos, nem mais nem menos, à sombra, numa boa! , e essa turma aí em frente, fantasiada de explorador de Mama África, equilibrada em cima duma máquina, nos olhando através de outras máquinas, fazendo tudo maquinalmente, suando sob um sol escaldante. Melhor andar; pessoal, vamos em frente. ”
“ Júnior, recolhe as orelhas, presta atenção nos espinhos.Cuidado, que não te pisem a tromba.”

03/09/2009

29/08/2009

SANTO DE CASA

AS OPINIÕES ACERCA DA LEITURA

1 . A MÃE :
Antes : Meu filho é um gênio !
Durante : Nem precisa de durante.
Depois : Não disse !

2 . A ESPOSA, amantíssima e fiel :
Bom, muito bom, mas ...ah, esquece !

3 . A FILHA, geração conflituosa :
Pô, pai, que merda !

4 . O FILHO, testosterônico :
Antes : Caraca, eu não mereço ...
Depois : Tá, e daí ?

5 . O MELHOR AMIGO :
Por você eu guento !

6 . O EMPREGADO :
Vale um aumento, chefia ?

7 . O AUTOR :
5x1 contra ! É coisa de gênio, mesmo ! Mais uma razão para lê-lo.

ESCRITOS

SOBRE MEUS TEXTOS

Todas as estórias são verídicas, como toda ficção.
Toda verdade é ficcional, como toda versão.
É como nas Minas Gerais:
a versão é mais importante que o fato.

Todos os textos são atos de fé,
escritos pelas minhas cabeças,
cada qual em seu tempo,
e
ao meu modo.

21/08/2009

The Sound of Music ?!

Cantares que de intenso enlevo nos remetem para imagens de extremo surrealismo:
Ramon Villazón cantando Stille Nacht, em alemão, famílias de oficiais nazistas fazendo o mesmo, nas noites de Natal nos anos 30 e 40.

26/07/2009

REFLETEXÕES

REFLETEXÕES
Reflexões que, tal qual o espelho, refletem instantaneamente o que queremos ver, sem um suporte mais denso como um conto, uma crônica ou um romance. Que assim sejam.

Do início até os cinco anos a foto revela a vida; após e até o fim, a interpretação de um personagem.

A diversidade na vida judaica é uma das características da unidade do povo judeu.

ADMIRAÇÃO: Ela se admirava que os homens, admirando sua qualidade calipígia, não se admirassem com sua admirável beleza interior.

Como dizia Mario Moreno(Cantinflas) : En la vida se llega a un punto coma que no le importa lo que se coma punto.

BRASIL, um país de semi-analfabetos. O Presidente, a primeira metade, seus eleitores a segunda.

25/07/2009

BENIAMINI

II Concurso CCMA de Literatura - CONTO
MENÇÃO HONROSA

BENIAMINI

Cada viagem é uma viagem, oniricamente falando. Ainda mais se para a terra das nossas raízes, onde finalmente – e como !-, troncos, galhos, folhas, flores e frutos – milhares de ! – explodem, em vigorosa e profícua diversidade, típica da alma judaica; a unidade na diversidade, gente muito gente e golems, inclusive.
Vivenciam-se fatos, ouvimos História e estórias, e trazemos as que mais teem a ver com o que queremos ver. A minha, contada numa visita às escavações no Muro das Lamentações, pelo excelente guia – porque orgulhoso do que fazia -, certamente muitos já a ouviram, muitos ainda a ouvirão, mas quero contá-la porque ao final de cada versão se faz uma nova verdade. Foi assim :
Quando ele chegou, já tinha uns setenta anos. Corpo franzino, mas rijo, um pouco encurvado, um brilho alegre e decidido no olhar. Pouco loquaz, era sobrevivente dos campos de extermínio e queria um emprego, junto ao Muro e no setor de limpeza. O encarregado do pessoal vasculhou seus registros, a intenção era arranjar-lhe uma vaga. “Se fosse em outro setor, teríamos agora, mas o senhor insiste...”
- Pois é, é isso mesmo e eu fico muito agradecido.
- Então só para daqui a dois meses. Vai vagar um lugar.
- Tá bom, eu espero; e lhe fico imensamente grato. Volto na data que o senhor marcar, aqui estão meus papéis, pode registrar e até lá. Shalom!
- Shalom. Como é mesmo o seu nome?
- Beniamini, Shmuel.
Pontualmente, dois meses depois, ele se apresentou. Trâmites burocráticos realizados, o encarregado apresentou-o aos colegas e à sua mesa de trabalho.
- Adoni, eu acho que o senhor esqueceu ou houve algum engano; eu quero trabalhar na limpeza, no Muro.
- Mas meu velho, sejamos francos: para seu estado físico e idade, limpeza externa é um serviço muito pesado. Pode não sair bem feito, pode não lhe fazer bem, e a responsabilidade é minha, em ambos os casos.
- Pode deixar, eu garanto e faço questão. Depois do que eu já enfrentei não vai ser uma vassoura que vai me derrubar e chuva e sol não me dizem nada. Pode deixar, fique tranquilo.
E, promessa feita, promessa cumprida. Um bom par de anos o velho cumpriu suas obrigações com eficiência e decisão. No semblante, um ar de prazer, de projeto realizado. Itzhak, o guia, curioso, com o tempo foi se chegando a Beniamini, puxando conversa, trocando idéias, pedindo opiniões. Ganhara sua confiança e, agora, costumavam comer sanduíches juntos, à hora do almoço, sentados na mureta em frente à entrada dos sanitários públicos.
- Shmuel, diga-me uma coisa, sinceramente; o senhor não acha que deveria trabalhar em outro setor? Isto é muito pesado para sua idade. Ou será cabeça-dura de judeu velho?
- Não, meu rapaz. Tudo na vida tem sua razão, senão as coisas ficam sem sentido. Não sou cabeçudo, sei o que quero e estou feliz assim; enquanto der, estarei aqui, não quero outra vida. Até já quiseram botar um russo, recém chegado, no meu lugar, mas a briga foi boa e aqui continuo.
- Mas então me diga, por quê?
- Vou te contar. Imagino que alem de você, muitos outros devem ter a mesma curiosidade. Vou te contar e pode espalhar. É até bom!
Quando eu estava em Auschwitz, eu trabalhava na faxina, na limpeza externa. Sol, chuva, neve, lama, nada importava; decidira comigo mesmo que aquilo seria uma forma de me manter fisicamente bem, encarava como exercício, era minha academia de ginástica. Tinha que resistir, estar firme, nas minhas orações nunca esqueci o Shemá e “ano que vem em Jerusalém”.
Havia um tenente nazista, alto, forte, um típico exemplar de ariano puro, como eles se achavam, se é que isto existia, que, por algum motivo que eu nunca soube nem quis saber, eu não diria que se afeiçoou por mim, mas pelo menos não me odiava definitivamente. Isto me garantia alguma ração de comida a mais e pancada a menos. Ele, que não sei que fim levou, até que tinha algum conhecimento do ritual judaico, alguma relação frustrada, não sei, pois nunca deixava de, sorrindo maquiavelicamente, toda vez que podia, me apontar a coluna de fumaça que saía do forno crematório e dizer: “Pode ter certeza, ô velho, ano que vem em Jerusalém só por aquele meio de transporte !” E ria, uma risada que eu nunca vou esquecer.
Eu aceitara o jogo, achava que assim teria forças e a cada fustigada do grande guerreiro reagia intimamente, me firmava na decisão: vou sobreviver, vou trabalhar para sempre na faxina, na limpeza, mas em Jerusalém; ano que vem!
E é por isso que vencemos. Aqui estou, cumprindo meu plano de vida arquitetado no campo da morte. Sou feliz, não me queixo e não quero outra vida; casei de novo, tive filhos, netos, que mais posso almejar?

O guia, no final de sua estória, estava emocionado. Nós também. Todos, sem nada combinar, tocavam o Muro com a mão.
- Que fim levou Beniamini?, - alguém perguntou.
- Ainda trabalha na limpeza externa; deve estar com mais de oitenta anos - foi a resposta.
Por quantos anos e para quantos mais esta estória será real?
Para sempre e para todos, é preciso que assim seja.


Uma amiga, a quem contei esta estória, ou melhor dizendo, esta versão desta estória, me escreveu:
... creio que tivemos o mesmo guia, pois a história contada é quase igual, só que achei que há uma incongruência na cronologia e nas idades, na história do Beniamini. Estou certa?
Anita............., Rio de Janeiro, por Email


É pode ser; deixando de lado as emoções, o que não melhora em nada a estória, incongruência há. Mas, não levemos tão a sério as datas, a razão; entreguemo-nos à fantasia, à poesia. Faz um muito mais do que bem!
O que importa é o sentido que tiramos das coisas, fatos ou versões, pois elas flutuam, bailam ou desmancham no ar; sem tanto os pés na terra; triste quem os têm permanentemente. O próprio Beniamini não é um, são tantos, são vários, sempre, através dos tempos. Quando outro, a estória seria diversa, quem sabe?, talvez...
Shmuel Beniamini, naquele dia, estava um pouco mais cansado do que de costume. Mesmo assim, cumpriu sua rotina matinal e, na hora certa, de todo dia, estava no trabalho. Faxina e limpeza no Muro das Lamentações, que já começava a se agitar, com a aglomeração de religiosos e turistas. Havia acordado com a sensação de que aquele dia não seria igual aos outros; o que era bom, afinal com o passar do tempo já sabia exatamente o que seria o minuto seguinte ao minuto passado; rotina...
Abaixando-se para apanhar um jornal que havia sido deixado ao pé da lixeira, sua atenção foi atraída para uma foto estampada na primeira página. “ Mais um empresário que estava ficando mais rico do que já era”. “Estranho, será que já vi este camarada?” “Bobagem, quem sou eu, não freqüento estas rodas...” “ Ele na dele, eu na minha e Deus contra todos...
Shmuel sentiu algo como um mal estar rondando sua cabeça. Endireitando o corpo, para respirar melhor, reparou no casal quase à sua frente. “O cara da foto!” Ela, mais afastada dele, com um xale nas costas e uma echarpe cobrindo-lhe a cabeça; ele, terno escuro, de fino corte, elegante. Recuavam, afastando-se do muro, andando para trás, passos miúdos, reverentes. Quase arrastando-se.
O velho prestou mais atenção no casal; a sensação não era confortável. Ela, cabisbaixa, ele, encurvado, como se carregasse um pesado fardo às costas. Seus olhares se cruzaram, e fixaram-se um no outro; o elegante, um olhar de penitente, Shmuel, brilho e glória.
- Mein Herr, wie geths? –exclamou o velho, o mais alto possível que não parecesse um grito.
O homem encurvou-se mais ainda, virou-se, tropeçou, e apoiado no braço da mulher, apressou o passo, dirigindo-se para o setor cristão da Cidade Velha.Ressoava em seus ouvidos a última frase que Beniamini lhe dirigira, olhos brilhando, expressão finalmente vitoriosa, no rosto intensamente enrugado, por baixo dos seus cabelos alvíssimos:
- Há quanto tempo, tantas vezes, desde o ano passado, o esperamos em Jerusalém! Shalom!





19/07/2009

DO LAR

1º CONCURSO GUEMANISSE DE TEXTOS HUMORÍSTICOS
MENÇÃO HONROSA

DO LAR


- Boa noite, princesa.
- Oi.
- Não dá para um sorriso ou será que não fiz por merecê-lo?
- Pô, não começa, cara. Pera um pouco.
- Está bem, acato. Meu destino é perar.
- Ih! Não faz drama; chega esse aí, o das seis. Já vai acabar.
- Está tudo bem, Zê. Quando minha humilde pessoa merecer a luz dos seus olhos, ilumine-me.
- Vai, vai logo tomar teu banho. Depois a gente conversa, janta, dá tempo de sobra pra das 8.
- Tchau. Fui.


- Tá bom?
- Tá.
- Tá ou tááá?
- Médio. Melhor se feito com amor.
- Amor na cozinha cheira a cebola ou alho.
- Pelo menos é mais ardente.
- De alho?
- Essa foi infame.
- A gente faz o que pode.
- Mas quando não pode, não faz.
- Obrigado Rui.
- Euzébio. Barbosa, mas Euzébio.
- Tuzébio?
- Dá pra falar sério?
- Pra quê?
- Você saiu hoje? Pegou um ônibus?
- Por que?
- Calma, não se assuste?
- Assustar, eu?
- É, você mesma. Quase entornou a água.
- Deixa de bobagem. Por que essa CPI agora?
- Mera curiosidade profissional. Amanhã, se tiver tempo ou algum compromisso, vai de ônibus. Quero ver se você nota alguma coisa diferente no transporte.
- Pode deixar, vou de ônibus. Até porque sou a única que não tem carro neste condomínio. Agora come, que já são quase oito.
- Tá bom; não é fácil ser casado com uma intelectual global.
- Bem que você gosta também...
- Eu não; vejo porque está ligado.” En passant”, como dizem os franceses.
- Você e a torcida do Flamengo.
- T’esconjuro!


- Boa noite, Princesa.
- Oi.
- Como foi seu operoso dia? Deu pra tudo? Cerziu minhas meias?
- Dar não dei, mas tive vontade.
- Olha, mulher, olha o respeito.
- Então se toca. Que quié isso, essas perguntinhas?
- Meias, não sabe? Aquilo que o vulgo usa entre o pé e os borzeguins.
- Quê?
- Que o quê? Meias ou borzeguins?
- Não, ô literato! Cerzir. Que que faz com isso?
- Não dianta! Não se fazem mais mulheres como antigamente... Saudades de minha saudosa mãezinha, Deus a tenha!
- Ué, pula pela janela que logo logo vai encontrar ela.
- Muito fino. É essa sua poética que me seduz. Sem mãe no meio, tá bem?
- Então não me provoca. E você, muito trabalho naquela bendita repartição?
- Departamento, minha filha, Departamento. De Concessões. Assaz importante, se quer saber. E seu maridão aqui é o chefe, tá? CHEFE, com letras maiúsculas; o detentor do poder.
- Puxa, conte mais! Só não tou careca de tanto ouvir isso porque uso Sedabrilho nos meus lindos cabelos; eu e a Donatela.
- Dona quem?
- Cara, não se faça de desentendido. A Donatela, a das nove, você sabe muito bem...
- Ah sei, aquela gostosa !
- Olha, me respeita! Te faço uma circuncisão tamanho família.
- Mas então, andou de ônibus hoje? Reparou algo de extraordinário?
- Andei, você não pediu? Agora, reparar mesmo, que eu me lembro, só a imundície desses ônibus. Até barata tinha. Teu Departamento não faz nada, não?
- Ei, vamos com calma. Em primeiro lugar, não é com o meu Departamento; em segundo, o que era pra notar você nem notou. A dondoca só se liga em novela, não é mesmo?
- Vai, desembucha logo, o quê que era pra mim notar?
- Você já reparou nas várias plaquinhas com avisos, pregadas junto ao assento do motorista? Então, tem uma nova, do meu Departamento; que eu crei. Um primor!
- Por que?
- Por que o quê?
- Por que é um primor?
- Porque eu criei, ora! Levei dias compondo o texto, burilando o vernáculo, pesando a força das palavras.
- E precisa tudo isso aí pra fazer uma plaquinha?
- Claro, minha deusa. É necessário ser direto, objetivo, claro e incisivo; senão, babau : ninguém entende ou leva a sério; sabe como é esse Zé povinho...Só um chefe para fazer isso. Um chefe com características de líder. Eu, às suas ordens!
- Tudo isso? É preciso mesmo, Napoleão?
- É sim. Pode debochar, mas é que você não alcança a importância das ações públicas. Você fala em Napoleão como se eu fosse um maluco, mas, podes crer, a criação de uma placa deste teor é um paralelo ao Napoleão, sim, mas diante da travessia do Rubicão. Sacou?
- Rubicão? Onde é isso?
- Esquece, você só conhece é o Marquês de Rabicó.
- Conheço? Eu?
- Já esqueceu? Foi o único livro que você leu e já não lembra mais. Monteiro Lobato. Pedrinho, Narizinho, Emilia, Sítio do Pica-pau Amarelo.
- Ah, mas isso faz muito tempo. E o tal do Rubicão? Qual é a dele?
- É uma expressão, mulher! Significa estar diante de uma decisão ousada e sem volta. Irrevogável.
- E o tal do Napoleão, atravessou ou não?
- Não, porque não foi ele. Foi um outro general, não me lembro qual, mas das antigas. Das muito mais.
- E a tal plaquinha, qual é a dela nessa travessia?
- Já disse, esquece o Rubicão. A plaquinha impõe penalidades ao usuário do transporte público, defende o meio-ambiente e protege a coletividade. O texto é mais ou menos assim, resumindo, para você entender: “Fica expressamente proibido o uso de aparelhos sonoros no interior deste veículo. No caso de não obediência a esta postura municipal, o recalcitrante será retirado do veículo.”
- Não entendi nada.
- Como não? Está direta, objetiva, clara e incisiva. Quem ficar ouvindo radinho de pilha alto vai ter que descer do ônibus.
- Cê não tá no ônibus mas tá viajando! Primeiro, se ainda existe e está pregada, é muito pequena, eu não vi; segundo, isso de aparelho sonoro, radinho de pilha, hoje em dia, não existe mais, é do tempo da minha avó; se toca, cara, estamos na geração Ipod e,terceiro, ninguém sabe o que é recalci..., como é mesmo isso aí da sua genial criação?
- Recalcitrante; um indivíduo obstinado, teimoso, desobediente, que se insurge e resiste contra algo determinado.
- E por que não diz logo? Fica de frescura, deitando falação e aí ninguém entende mesmo. Depois vem dizer que o povo é ignorante! Não é não, cara, pode até chegar a Presidente da República e sem saber o que é recalcitrante. É só ser recalcitrante.
- Meu Deus! Tenho que apelar pra mim mesmo aqui nesta casa. Depois querem que o Serviço Público funcione a contento. Não há um fulcro comum entre autoridade e autorizados.
- Quer saber, Euzébio ? Esse papo de Rubicão, plaquinha recalcitrante e sei lá mais o que, já me encheu o saco! E olha que não o tenho! Gostou das concordâncias, sabichão? Vamos ver a das nove que é bem melhor. Relaxa.
- Tá bem, cê tem razão. As partes não reconhecem o valor dos servidores mesmo e, portanto, não os merecem. Pra mim, por hoje, chega.
- E pra mim, então?

E para o leitor, também. Afinal a das nove já vai começar. Tempo de prestar atenção ou desligar.


10/07/2009

EXISTENCIAIS

NÃO HÁ NEM RESTA DÚVIDA QUANTO A.

Peripatetizava ser politicamente correto.
Incongruência!
Em sendo politicamente, não é correto.


APUD O BARDO

Ser ou não ser, eis a questão.
Ser um ser, essa a questão.
Qual questão é a questão?

NELSON, quatro vezes sete.

Aos 7, Laurinha, a mãe, deixou-o ; a ele e a Alfredo, seu pai ; por Rodriguinho, alegre e leal amigo.
Aos 14, desilusão e depressão, a vida deixou Alfredo, que deixou-lhe nada.

Dna. Laura e o Dr. Rodrigo, provecto advogado, apareceram e o deixaram ; nada havia.
Aos 21, finalmente Laura, fixação desde os 14; véu e grinalda.
Aos 28, Laura deixou-o por Alfredo, amigão de todas as horas, nenhuma palavra sequer. Deixou a vida. Chumbinho.

DIÁLOGOS HIPOTÉTICOS

DIÁLOGOS sem provas , baseados em indícios que as dispensam. Um testemunho histórico do Estado Nacional do Brasil que leva o nacional do Brasil a um estado histérico, no ano da graça, muito sem graça , de 2007 , sobre :

O PODER EXECUTIVO
- Ministra, em relação à política do Meio Ambiente , a ideologia do Presidente é vermelha ou verde ?
- Loura.

O PODER LEGISLATIVO
- Pai , o que é politicamente correto ?
- Filho , aqui, falsidade ideológica , corrupção , desvio de dinheiro público , é , politicamente
correto.

O PODER JUDICIÁRIO
- Companheiro togado , eu solto Vossência hoje , você solta Nossência amanhã . Certo ?
- Combinadíssimo , Meritíssimo . É mister precavermo-nos todos. Sempre.

A RELIGIÃO
- ?
- 10 % , irmão .

A POLÍTICA
- ?
- 10 %
- Meu irmão, não dá nem pra começar a conversar.
Quem gosta de migalha é bem-te-vi e eu não tô te vendo .

RELAÇÕES PÚBLICAS
- Irmão, Mermão, Irmãozinho, Meu irmão, Brother, Bro. !
- Lá vem armação.
A JUVENTUDE
- Meu pai é Deputado Federal.
- Chato , né ?!
- Pô , mas ...
- Não liga não , você não tem culpa. Por mim tá tudo bem .

A LEITURA
- Qual o seu livro de cabeceira ?
- Se você lê muitos livros você embaralha o pensamento , e perde o rumo do seu objetivo . Se você não lê nada , o seu caminho se esclarece, acende uma luz no fundo do túnel e aí é só meter a cara que você é capaz de alçar aos mais altos postos republicanos de um Estado; pelo menos aqui.

ARQUITETURA E ARTE : DITOS NO SEC. XX

1 – A pirâmide do Louvre é a Tour Eiffel do século 20.
2 – Mies van der Rohe : “Less is more”.
3 – Crítica à Frank Lloyd Wright, sobre o Guggenheim Museum: “Sua arquitetura não combina com o entorno”.
Resposta: “O entorno é que não combina com a minha arquitetura”.
Corroborando: De fato!
4 - A arte é expressão do belo; o feio, como arte, não o é – quando muito, expressão de demônios e instintos interiores.
5 - O feio, na arte, não é uma questão para Michelangelo, é sim um problema para Freud.
6 - Instalação, cenografia à procura de um texto que justifique sua existência.
Há lugar para uma Instalação na sua casa , na sua sala ? ; não sendo você o autor, é claro.

06/07/2009

LETRAS MINIMALISTAS

1
MACHADO, 100 ANOS. UM EVENTO

Veleidades literárias, jovem, como outros tantos, as tivera.
Bacharel em Direito, perpetrara tanto sonetos quanto curtas prosas.
Ambição e mundo dos negócios lhe incensara o deus Marketing.
Letras, então, postergadas.
Machado, 100 anos depois. Semana, mês, efemérides, seminários, reedições e releituras, o que está na moda.
Moscas mil em torno do mesmo confeito.
Cáspite! Um livro! Surfemos nesta onda, o que é uma boa.
Não tem erro: é best-seller, com certeza...!
Vã tentativa. Perdera a mão; nem que fora dedilhar, tão somente, estava capaz de.
Não era fácil o Bruxo do Cosme Velho!
Passemos ao largo, pois. Menos, hoje, pode ser mais. Loja de rua.
Temakeria Machado, a Academia do Saber Sabor.
Muito mais seller. O Bruxo do Largo do Machado! Eu. Lado a lado.
Supimpa!
2 3º lugar 1º Concurso Crônicas Cariocas Universidade Castelo Branco, RJ
SÓVÓMESMO!

- Guilherme, vai escovar os dentes !
Tempo.
- Guilherme, vai escovar os dentes !
Tempo.
- Deixa eu te cobrir – um beijo - , um beijo, durma bem, meu amor.
Tempo.
- Guilherme, mas eu não disse para escovar os dentes ?!
- Mas vóóó, eu escoveeei !
- Como você escovou se a escova está lá na pia, com pasta e tudo ?
- Eu escovei, vó. É que eu já deixei preparado p’ra amanhã de manhã.
A vó acredita. Por que não há de?
3
REVEZAMENTO

Meu bem,
Pierre de Coubertain tinha razão : o importante não é vencer , mas, sim,competir bem.
Estou no nosso vestiário, nosso pela última vez, dessa vida de atletas. Me lembra toda nossa trajetória de competição. Não que não tenha valido a pena; valeu, mas agora não vale mais.
Estou fechando o armário e saindo para outras paradas, deixando para trás conquistas e fracassos.
Ouros, pratas, bronzes, e muitos ouropéis.
É preciso saber a hora de sair, de mudar de opção e de pista, quando se percebe que o que aparenta deixa de funcionar. Soa o gongo.
Parto para um segundo tempo, o derradeiro. Nem sempre se chega ao podium, mas há que busca-lo. Vale tudo, a beleza e harmonia do sincronizado, a perseguição, seja média ou longa a distância, com ou sem barreiras, os saltos, triplos ou em extensão.
Sei que, à primeira passagem, parecerá deixarmos cair o bastão, mas a recuperação virá, com esforço e tenacidade, tempo e coragem.
Adeus e obrigado por tanta força. Te amo. Fui !

05/07/2009

Marketing brega

Já perceberam quão brega é aqueles vendedores de colchões , nas lojas Ortobom, fantasiados de médico?

26/06/2009

SOBRE POLÍTICA BRASILEIRA, a do momento.

Um Presidente gaiato diz:
... eu quero evitar que a vaca faça cocô ou xixi naquela 'aguinha'... fazer? Pagar para que ele possa colocar a vaquinha em outro lugar.
Um Presidente imortal diz:
... eles não podem ser secretos. Deixaram de cumprir uma formalidade essencial.
Um Presidido comum pensa: Eles estão de boi pra nós.
...ando e andando!
Rui Barbosa dá mais uma revirada em seu túmulo...
O STF acertou em cheio:
Para transmitir as falas dos Presidentes da Nação (com cacófato, por favor) não é necessário diploma de jornalista.Basta ter um estomago forte.

POSTAGEM INAUGURAL, na verdade um teste.




Quem sou: muitos.
Do que gosto: tudo.
Filme: O baile.
Música: New York, New York.
Daqui pra frente, tudo. Sobre tudo.