28/09/2010

PESTE e HUMANIDADE - Cronologia



Ao final da Idade Média (1347-1350) a Humanidade foi atingida em sua saúde física pela Peste Negra (Peste Bubônica), que assolou a Europa, a China e o Oriente Médio.

Na primeira década do século 21, da Idade Contemporânea, o mundo, globalmente, sofreu a eclosão de 3 Pestes, sendo uma, atualmente, em declínio e duas em plena evolução, atingindo sua saúde mental, no pensamento e no relacionamento humano:
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22/09/2010

CRÔNICA DE BONS TEMPOS

TAZUL E JOÃO BUJÃO

O Delegado divagava, em pensamento, curtindo aquela lombeira que dá nas gentes no retorno à mesa de trabalho após um bom almoço; sempre com os amigos, “uma taça de vinho, somente, que o dia é longo.”
“ 1960, 70 e 80. É, não mais que vinte anos são os anos que duram os segundos anos dourados.” “Como eram bons tempos os meus tempos...”
Já podia até ter se aposentado. Isso ele não queria; parar, ficar em casa se enchendo e enchendo a mulher? Nem pensar...
Tinha chegado vivo até ali, apesar de tudo o que tinha passado na profissão; tivera bastante sorte, ele reconhecia, e muito cuidado, obviamente. Trazia uma ponta de tristeza em seu olhar meio distante. Não era nada daquilo que tinha imaginado para si, mas “pensando bem, é até pecado se lamentar — se é que existe pecado”. “Hoje em dia, pecados se resolvem com IPM, CPI, investigação profunda e punição doa a quem doer; desde que fique tudo como está...” “Todo mundo peca, até padre tá pecando!”
Um suspiro nostálgico, um olhar prolongado para o céu azul; nem sequer uma nuvem para contrastar. Paz, total. Bem no alto a temperatura devia estar muito baixa. Um jato deixava um rastro branco no seu deslocamento. “É lá que eu devia estar agora. Indo para..., para qualquer lugar, ora!” “Como eram bons tempos os meus tempos...”
A entrada do escrivão devolveu-o à realidade.
— Dr., com licença. O Coronel telefonou outra vez. Quer saber que providências foram tomadas.
— Que Coronel e que providências?
— Aquele da Petrobrás. Aquele que vive reclamando dos mindingos que ficam embaixo da passarela.
— Putzgrila!, mas ele é muito chato mesmo!
— Positivo. É todo santo dia, reclama, pede providências, diz que não pode passar com a “senhôra” dele. Que jeito mais esquisito de falar... E a primeira vez, doutor, que eu quase paguei um mico porque eu entendi ele dizer cenoura?! É assim mesmo que se fala? Tá nos conformes?
— Coisa nenhuma, é coisa de pouca coisa metido a grande coisa. É pra parecer culto, refinado.
— É coisa das antigas, né doutor?
— É. E garanto que ele faz isso sempre na frente de alguém. É pura figuração, pra impressionar.
— Mas e daí, doutor, que que a gente vamos fazer? Eu já não sei mais o que dizer pro homem.
— Não vamos fazer nada. Deixa os caras em paz.
Mal vestidos, roupas rasgadas, sujos, desgrenhados, os dois homens viviam, dia e noite, sob a passarela que atravessava a avenida, perto da Delegacia. Ficavam trocando idéias entre eles, às vezes cantavam, os dois, baixinho, não incomodavam ninguém. Se ausentavam apenas em curtas incursões aos bares próximos, cujos proprietários garantiam suas ausências nos estabelecimentos e calçadas dando-lhes comida e permitindo o uso dos sanitários — em horas que não as de pico, conforme combinado. E trato é trato, negócio fechado, vida que segue, dois tranquilos nada que em nada incomodavam quem quer que fosse; a não ser o Coronel da Petrobrás.
— O senhor conhece eles, não conhece?
— Porque pergunta? Quem te disse isso?
— Ninguém, mas é que eu tô sempre alerta para as redondezas da Delegacia, sacomé, né?, os bandidos de hoje tão cada vez mais atrevidos e , mais de uma vez, eu vi o senhor lá, parado, puxando a maior conversa.
— Bem, já que você sacou, vou te contar alguma coisa para não ficar nenhuma má impressão; mas fica só entre nós.
— Claro, doutor, tá falando prum túmulo...
— Não, também não precisa tanto. O caso é o seguinte: aqueles dois sem teto — sem domicilio qualificado, como eles se definem — foram meus contemporâneos em Ipanema, nos bons tempos do sexo, chope e bossa nova. O negro é o Tazul, que morava no Cantagalo e o branco é o João Bujão, que dormia sob os coqueiros do Posto 9 por opção, pois a família tinha posses, tinham casa em Ipanema.
— E o porque dos apelidos?
— Porque o Tazul era o único negro da nossa turma mais assídua e chegava a ser azul de tão retinto que era e o João, quando a garota por quem ele era apaixonado o largou, tentou se matar, enfiando a cabeça no forno do fogão da casa dele e abrindo o gás : foi salvo pela empregada que, ao entrar na cozinha viu o desvairado e deu-lhe um belo chute na bunda, pensando que ele estava tentando pegar o peru que ela ia assar para o Natal. Ele machucou o rosto e disse pra turma que fora um bujão de gás que caíra da prateleira, mas a doméstica entregou tudo e daí ficou João Bujão, pro resto da vida.
— Era um pessoal muito doido, não era não, doutor?
— Nada, rapaz. Comparado com hoje, éramos uns santos. Era tudo gente do bem, mesmo sendo um mais maluco que o outro. Foi a época da Leila Diniz, da garota de Ipanema, da Duda, do Hugo Bidet, Tom, Vinicius, tanta gente bela e talentosa...
— Deve ter sido muito animado, nénão? O senhor não tem saudade?
— Tenho, e como tenho! Foi um tempo muito bom o meu...
— Mas, e esses dois, o que aconteceu pra eles acabarem assim?
— Esses dois — uma pena, realmente —, tomaram todas e cheiraram além da conta. Perderam o rumo, o caminho de casa, não acharam ninguém que os segurasse, esqueceram da vida, do que era vida. Por isso, às vezes, eu paro para dois dedos de prosa; eles não lembram de mim, o que é bom pra eles, senão seria muito doído; já chega ao que chegaram.
— É uma pena. Parecem mesmo gente boa.
— E são. Ainda outro dia o João Bujão me disse: —Sabe, doutor, há nuvens que aportam alegrias e há nuvens que carregam felicidades embora, de vez, só tristeza ficando; isso trabalhado, até poderia dar boa coisa se Tom e Vinicius não tivessem nos abandonado ao funk e ao pagode. Isso é coisa que se faz, doutor?
— Legal. E o Coronel, doutor, que que eu digo?
— O que você quiser. Diga , por exemplo, que esta especializada envidará todos os esforços para tomar todas as providências cabíveis, no caso. Doa a quem doer!
— O Escrivão saiu e o Delegado voltou a olhar o céu azul, sem sequer uma nuvem para contrastar. “Como eram bons tempos os meus tempos...”

08/09/2010

PRÉ ESTREIA: CAPA DO PRÓXIMO EBOOK


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