Não mais
que de repente, aconteceu.
O
executivo, pensando onde mais sonegar, não a viu iniciando a travessia da rua, com
a atenção ainda voltada para onde gastar mais; linda a vitrine desta loja..!
Não houve
tempo para parar. Socorrer, nem pensar; delegacia, B.O., achacamento, etc.,
etc., solução há de aparecer... Um corpo projetado sobre a calçada, bolsa
aberta e todo arsenal de grifes e qualidades espalhados. Nenhum sinal vital
aparente.
Logo, a
aglomeração. Curiosos, solidários, passantes, amigos do alheio e comentadores;
quanto à culpa, havia divergências. Os conectados twitando, alimentando o Face,
tentando as autoridades, em busca de providências, o que já era mais
complicado: solicitação anotada, a primeira viatura será enviada para o local,
qual é o local?, no momento não há nenhuma disponível, etc., etc.
O tempo
passa, a aglomeração se vai renovando. Corretores seguem para vender mais
ilusões; os advogados, de atalaia para novas e oportunas brechas para safar
seus réus; banqueiros, céleres, pensando mais juros; os médicos, no azáfama
entre convênios e vários empregos; políticos, sempre atentos a novas
locupletações, tudo dentro da lei; cada qual segundo sua ambição e
possibilidades.
Com o
tempo, resta a vítima, com sinais vitais tímidos, algum tremor , a bolsa vazia
e os pertences desaparecidos: menos a contas a pagar. Por companhia, só o
mendigo, paciente, esperando sabe-se lá o que, com seu carrinho de feira, o seu
guarda- -roupa e propriedades ambulante. Um bom ponto, afinal!
À distância,
preso a um congestionamento no trânsito, o executivo ainda remoe o pensamento,
silente: solução há de aparecer...
“
Respeitável público, é assim que a banda toca..!” diria, se houvesse, o chefe
do picadeiro disto que é o nosso mundo contemporâneo.